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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A falta de educação do trabalhador brasileiro

Não pensem os leitores que estamos nos referindo à falta de educação como sinônimo de má educação que, por sua vez, nos dá a noção de tratarmos de alguém grosseiro, malcriado.

Nossa reflexão tem como objeto a triste realidade do ensino brasileiro, cujos raios vêm atingindo impiedosamente as relações de trabalho, já tão conturbadas em nosso país.

Só se tem a exata dimensão de uma carência, quando se conhece sua real importância.

Acredito que não só os nossos trabalhadores, mas a nossa população em geral não tenha noção do estrago que a falta de educação faz no encaminhamento da vida em sociedade.

As pessoas que só conhecem a experimentação prática sofrem mais, na medida em que não têm bagagem cultural suficiente para refletir sobre uma decisão a tomar ou um negócio a realizar, por exemplo, ficando a mercê daqueles que detém maior desenvoltura, até por aptidão natural, ou utilizam seu melhor preparo com fins nem sempre legítimos.

Hoje em dia, sofremos os efeitos das crises econômicas pelas quais o mundo tem caminhado, o que representa parte do preço que se paga para estar incorporado ao fenômeno intitulado globalização, onde a integração dos mercados econômico-financeiros favorecem os negócios, mas, em contrapartida, repartem prejuízos por conta da fragilidade de alguns de seus protagonistas.

Referidos acontecimentos são tão marcantes, que suas conseqüências têm atingido não só o pobre terceiro mundo, como também os já conhecidos emergentes, e até o próprio todo-poderoso primeiro mundo.

Mas será que a decadência que o ensino pátrio vem experimentando se deve única e exclusivamente aos acontecimentos mais recentes ?

Os profissionais de recursos humanos, com certeza, devem estar atravessando uma fase bastante difícil na busca de talentos e profissionais preparados para enfrentar toda a alteração que o futuro reclama.

Da mesma forma, nossos educadores, com certeza, saem das salas de aula, todos os dias, assombrados com algo que julgamos estar em fase de extinção que é o raciocínio, isto é, o encadeamento de idéias.

Nossos jovens profissionais se vêem, de repente, batendo às portas de um mercado de trabalho tão agressivo que, intimidados, desistem de levar à frente o ideal de toda uma vida partindo, como única saída, para outras atividades, em muitos caso, sem qualquer relação com a formação acadêmica.

Aqueles que conseguem um lugar no mercado terão seu futuro desenhado pela iniciativa própria e capacidade, oportunidade e vontade de saber cada vez mais sobre tudo o que está à sua volta, sem qualquer restrição à área de conhecimento e muito menos sem medo de diversificar esse conhecimento, a fim de acostumar-se a ter uma visão global de sua profissão, de sua carreira e, principalmente, do desenvolvimento do seu trabalho, seja ele por meio de relação de emprego, atividade autônoma etc.

Quem só enxerga a própria mesa de trabalho ou um número limitado de antigos clientes já está condenado à aposentadoria, muitas vezes não desejada, dado seu alijamento natural da luta por um espaço no complexo mundo cada vez mais competitivo que nos envolve a partir da porta de saída das nossas casas ou em muitos casos de dentro delas.

O ensino, no sentido de educar, instruir, não deve ser mero habilitador, via "diploma", mas este documento deve ir além de uma moldura para demonstrar a capacidade adquirida, depois de anos de estudo, de alguém que está perfeitamente situado no seu tempo e revendo a cada dia as perspectivas de futuro.

Enquanto nossas faculdades despejarem milhares de jovens apenas informados sobre a carreira com a qual sonharam ou à qual abraçaram por necessidade e, consequentemente, inaptos para o seu exercício, o mercado de trabalho e o próprio país responderá com uma perigosa queda nos níveis de qualidade, tão reclamada pela interação global, e nos próprios índices de desemprego, para não citar outros fatores, visto que os mais preparados passam a desempenhar funções múltiplas com o auxílio da alta tecnologia disponível.

O desemprego estrutural, ou seja, aquele que tem como causa o avanço tecnológico, pode ter seus efeitos minimizados, caso sejam dinamizadas, no país, políticas definidas de amplo desenvolvimento da mão-de-obra, não adstritas aos níveis educacionais secundário e superior, mas que acompanhem o cidadão desde a sua formação básica, incutindo-lhe a noção de trabalho - e não de emprego - e desenvolvendo seu raciocínio de forma a ter subsídios para entender as transformações e a modernidade sem chocar-se e sem intimidar-se.

Talvez a nossa maior aflição hoje não seja a falta de vagas, mas as vagas que não são preenchidas por falta de candidatos à altura, por absoluta falta de formação profissional, cujo programa deveria ter real importância, principalmente com vistas ao enfrentamento dos efeitos das crises mundiais, cada vez mais poderosas.

Infelizmente, faz parte da cultura do povo brasileiro não ter cultura, não por vontade própria, concluímos.

Não podemos nos esquecer também, que saúde e educação são os sustentáculos de um profissional capaz de entrar na briga por um futuro que lhe dê pelo menos uma condição decente de vida.

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