Páginas

sábado, 5 de março de 2011

A comunicação e o conhecimento

Conhecer o mundo. Sugar da vida tudo aquilo que ela escancara e até mesmo aquilo que ela esconde. Talvez a filosofia deva retornar à vida dos escolares, às rodas de aposentados, ao “papo” dos adolescentes e às conversas de botequim. Talvez a filosofia nos ajude a buscar a verdade dos fatos, a razão de ser de tudo o que nos faz vivos, de tudo o que nos fará mortos e termine por ensinar, de novo, a que nos conheçamos um pouco mais, dia após dia.

Mas como podemos caminhar até o conhecimento, se ele passa teimosa e dificilmente pela barreira da comunicação? Tenho procurado, incessantemente, uma resposta a esta indagação. O que tenho conseguido, a duras penas, é convencer-me de que ainda que estejamos sob o domínio de tecnologias cada vez mais avançadas, de linguagens cada vez mais instantâneas e agressivas, estamos nos comunicando muito mal.

Assim, como vamos conhecer o mundo e sugar da vida sua energia?

As diversas mídias nos apresentam, sem qualquer espírito generalista, é claro, um deprimente espetáculo de desinformação e de idiotização do nosso povo.

O que uma égua ou uma bunda podem ensinar a um indivíduo? Como será que alguém enxerga o mundo, se o que recebe sobre ele vem simplesmente pela TV, na sua banalizada disputa de audiência, ou pelas janelas que dão para as ruas violentas e frias das grandes cidades?

As famílias, as associações de bairro, os municípios, as empresas, as igrejas, os partidos, a nação, o estado, enfim todos têm obrigatoriamente de carregar em suas mãos sua ferramenta mais importante, a comunicação.

Se não falo com meu filho. Se não explico ao meu chefe meus projetos. Se não entendo o que ouço na escola. Se não sei o que meu pai fez até hoje. Terei a certeza de que não conheço meus limites. Não sei onde fica meu fim, meu começo e se tenho ou não um caminho a seguir.

Quando alguém lê mal, fatalmente, escreverá mal, mal saberá pronunciar aquilo que mal consegue ler e que talvez não consiga escrever. Diante disso, fica difícil pretender que este alguém entenda toda a parafernália cibernética que se coloca à sua frente, desafiando-o a cada instante para que nela se insira ou morra.

Já passamos, entre outras, pela era dos descobrimentos, do mercantilismo, da industrialização, do poder econômico, da tecnologia e agora estamos em plena era do conhecimento. Hoje, o grande patrimônio das empresas é o seu grupo de colaboradores, tendo como resultado tudo aquilo que eles conseguem criar e toda a sua capacidade de adaptação e enfrentamento dos desafios. Este é o caminho e, certamente, todo aquele que ousar inverter ou desvirtuar esta direção, será condenado ao esquecimento sumário. Será impiedosamente alijado do sistema.

Todavia, o que se vê pela vida, seja lá onde for, não são os operários do conhecimento, mas os demolidores de valores. Dentre eles, podemos citar os assassinos dos costumes, os pichadores das nossas obras de arte, os banalizadores da vida, os exterminadores das culturas populares, os descaracterizadores de lugares, os desumanizadores de seres, enfim, os mensageiros do caos.

Nossas palavras, atualmente, não exprimem ações no plural. Somos tão singulares quanto o nosso linguajar urbano, quanto o nosso dinheiro que quase não consegue pluralizar-se ainda que seja mais de um. Você já deve ter visto alguma coisa que custe “dé real”, não é?

O que você faz, enquanto cidadão, para que saiamos deste atoleiro?

O que se constata, numa reflexão sem fantasias, são alguns pontos onde a comunicação funciona negativamente, carregando consigo tudo aquilo que por ela é alcançado:

  • Comunicação deficiente e corrupção, uma trabalhando a serviço da outra. A nação sendo enganada pelo estado, aquele que não respeita quase ninguém.

  • Comunicação ineficiente e falência, amigas íntimas fazendo com que a concorrência comemore o fato de ter parceiros tão vulneráveis e ingênuos.

  • Comunicação difícil e desemprego, lâmpadas queimadas que dificultam o acesso à dignidade, transformando racionais em irracionais.

  • Comunicação inexistente e violência, co-autores do nosso medo, da nossa insegurança, fazendo com que só olhemos para dentro de nós mesmos.

Tratamos mal nossa vida e ainda esperamos algo dela. Tratamos mal da nossa comunicação e ainda pretendemos construir conhecimento.

Nossa observação deve desligar-se das banalidades que a concorrência desmedida e egoísta cria e dedicar-se ao aprimoramento das relações sociais e culturais, pois uma boa observação nos leva a transformar dados em informação e informação em conhecimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário