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sábado, 9 de julho de 2011

Inverno

Tudo em nós era saudade do inverno
Teu rosto pálido, sem sol
Tua pele branca sem marcas e sem bronze
O capítulo final de um tempo gelado
Em que soubemos bem o que é uma conjunção
Em que estivemos bem próximos da solidão
De nós
Apenas nós
Tempos de palavras frias
Cobertas quentes
Chás e beijos
Queijos e vinhos
Cantinhos e lareiras
Besteiras
Sorrisos
Pés quentes e narizes gelados
Corpos pelados
Arrepiados
No furor da nossa animalidade voraz
Tapetes e sofás
Sessão da tarde
Preguiça covarde
Sonolência calculada
Você cansada
Eu caído
A cama quente
O sol raiando
Eu perguntando:
- Você me espera até o próximo inverno?

© Silvio Helder Lencioni Senne

sábado, 9 de abril de 2011

Imagem distorcida

Solitude
Desencontro temporal
Eu na rua
Você num festival

Similitude
Espelho especial
Eu trincado
Você num vendaval

Altitude
Tombo vertiginal
Eu masturbado
Você num bacanal

Inquietude
Barulho infernal
Eu de fogo
Você num hospital

Virtude
Pureza virginal
Eu babando
Você passando mal

Longitude
Saudade ocasional
Eu na poeira
Você no ponto final

Magnitude
Altivez celestial
Eu ajoelhado
Você num pedestal

Estamos vivos?

Silvio Helder lencioni Senne

sábado, 5 de março de 2011

A comunicação e o conhecimento

Conhecer o mundo. Sugar da vida tudo aquilo que ela escancara e até mesmo aquilo que ela esconde. Talvez a filosofia deva retornar à vida dos escolares, às rodas de aposentados, ao “papo” dos adolescentes e às conversas de botequim. Talvez a filosofia nos ajude a buscar a verdade dos fatos, a razão de ser de tudo o que nos faz vivos, de tudo o que nos fará mortos e termine por ensinar, de novo, a que nos conheçamos um pouco mais, dia após dia.

Mas como podemos caminhar até o conhecimento, se ele passa teimosa e dificilmente pela barreira da comunicação? Tenho procurado, incessantemente, uma resposta a esta indagação. O que tenho conseguido, a duras penas, é convencer-me de que ainda que estejamos sob o domínio de tecnologias cada vez mais avançadas, de linguagens cada vez mais instantâneas e agressivas, estamos nos comunicando muito mal.

Assim, como vamos conhecer o mundo e sugar da vida sua energia?

As diversas mídias nos apresentam, sem qualquer espírito generalista, é claro, um deprimente espetáculo de desinformação e de idiotização do nosso povo.

O que uma égua ou uma bunda podem ensinar a um indivíduo? Como será que alguém enxerga o mundo, se o que recebe sobre ele vem simplesmente pela TV, na sua banalizada disputa de audiência, ou pelas janelas que dão para as ruas violentas e frias das grandes cidades?

As famílias, as associações de bairro, os municípios, as empresas, as igrejas, os partidos, a nação, o estado, enfim todos têm obrigatoriamente de carregar em suas mãos sua ferramenta mais importante, a comunicação.

Se não falo com meu filho. Se não explico ao meu chefe meus projetos. Se não entendo o que ouço na escola. Se não sei o que meu pai fez até hoje. Terei a certeza de que não conheço meus limites. Não sei onde fica meu fim, meu começo e se tenho ou não um caminho a seguir.

Quando alguém lê mal, fatalmente, escreverá mal, mal saberá pronunciar aquilo que mal consegue ler e que talvez não consiga escrever. Diante disso, fica difícil pretender que este alguém entenda toda a parafernália cibernética que se coloca à sua frente, desafiando-o a cada instante para que nela se insira ou morra.

Já passamos, entre outras, pela era dos descobrimentos, do mercantilismo, da industrialização, do poder econômico, da tecnologia e agora estamos em plena era do conhecimento. Hoje, o grande patrimônio das empresas é o seu grupo de colaboradores, tendo como resultado tudo aquilo que eles conseguem criar e toda a sua capacidade de adaptação e enfrentamento dos desafios. Este é o caminho e, certamente, todo aquele que ousar inverter ou desvirtuar esta direção, será condenado ao esquecimento sumário. Será impiedosamente alijado do sistema.

Todavia, o que se vê pela vida, seja lá onde for, não são os operários do conhecimento, mas os demolidores de valores. Dentre eles, podemos citar os assassinos dos costumes, os pichadores das nossas obras de arte, os banalizadores da vida, os exterminadores das culturas populares, os descaracterizadores de lugares, os desumanizadores de seres, enfim, os mensageiros do caos.

Nossas palavras, atualmente, não exprimem ações no plural. Somos tão singulares quanto o nosso linguajar urbano, quanto o nosso dinheiro que quase não consegue pluralizar-se ainda que seja mais de um. Você já deve ter visto alguma coisa que custe “dé real”, não é?

O que você faz, enquanto cidadão, para que saiamos deste atoleiro?

O que se constata, numa reflexão sem fantasias, são alguns pontos onde a comunicação funciona negativamente, carregando consigo tudo aquilo que por ela é alcançado:

  • Comunicação deficiente e corrupção, uma trabalhando a serviço da outra. A nação sendo enganada pelo estado, aquele que não respeita quase ninguém.

  • Comunicação ineficiente e falência, amigas íntimas fazendo com que a concorrência comemore o fato de ter parceiros tão vulneráveis e ingênuos.

  • Comunicação difícil e desemprego, lâmpadas queimadas que dificultam o acesso à dignidade, transformando racionais em irracionais.

  • Comunicação inexistente e violência, co-autores do nosso medo, da nossa insegurança, fazendo com que só olhemos para dentro de nós mesmos.

Tratamos mal nossa vida e ainda esperamos algo dela. Tratamos mal da nossa comunicação e ainda pretendemos construir conhecimento.

Nossa observação deve desligar-se das banalidades que a concorrência desmedida e egoísta cria e dedicar-se ao aprimoramento das relações sociais e culturais, pois uma boa observação nos leva a transformar dados em informação e informação em conhecimento.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Umbigo

Tentei medir-te para conhecer-te o centro
Porém, tratando-se de figura geométrica complexa
Me perdi
Tracei longas retas
Apontei-as para o norte
Segui paralelas
Inimigas eternas
Que terminam mas não se tocam
Fui buscar mediatrizes
Rebati seu plano, deitando-o para mim,
Espalhando sobre eles linhas delicadas
Circulei entre eixos pulsantes
Senos obscenos
Co-senos envergonhados
Funções vitais espaciais
Especiais
Pontos de fuga
Aqueles, perfeitos
Sombras
Aquelas, acolhedoras
E num lance certeiro
Do meu compasso
Estrategicamente aberto
Ponta macia, contundente
Marquei a bissetriz mais exata
Orientada por um único ponto de equilíbrio
Que te divide simétrica
E me orienta deliciosamente
Para cima, com volumosos perfis, fala suave e imaginário concreto
Para os lados, com hastes que sustentam amores e gestos discretos
Para baixo, com movimento, com sede, fome, perfume,
Triângulo isóscele,
Ângulo agudo com o vértice apontando para o meu amor
Mesma linha
Mesma reta
Boca
Grandes e pequenos lábios
E o ponto central
O umbigo
O início da viagem

Silvio Helder Lencioni Senne

Terça-feira de carnaval não é feriado

Os dias destinados à festa popular denominada "carnaval" não são considerados feriados nacionais, visto que não há lei que assim os considere.

É comum, dada a identidade desta festa com o povo brasileiro, a caracterização desses dias, principalmente da terça-feira, como feriado.

Todavia, não podemos esquecer que essas datas não foram criadas por lei, mas existem em função dos costumes trazidos pelos colonizadores da nossa terra ou, em outros casos, da fusão desses costumes, considerando-se a diversidade de povos estrangeiros que para cá vieram e estão até hoje.

Assim, os feriados civis ou nacionais são declarados em lei federal (Lei nº 10.607/2002), a qual de clara esta qualidade aos dias 1º de janeiro, 21 de abril, 1º de maio, 7 de setembro, 2 de novembro, 15 de novembro e 25 de dezembro.

Desta forma, não há necessidade, a cada ano, de que haja uma reafirmação, por parte do Governo Federal, das datas em que se comemoram os feriados civis ou nacionais, porquanto as leis que os criaram só deixam de produzir efeitos quando revogadas.

Entre as leis em vigor que regulam a vida do País, não encontramos uma que declare os dias ou alguns dos dias de carnaval como feriado nacional.

Considerando que a terça-feira de carnaval não é feriado e que os feriados locais devem ser declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local, conforme a lei acima citada, concluímos que esse dia só será considerado feriado nos municípios onde houver determinação por meio de lei municipal, discutida e aprovada pela respectiva câmara de vereadores e sancionada pelo chefe do Executivo.

Segundo a Lei nº 9.093/1995, cada município pode declarar até quatro datas como feriado, nestas incluída a Sexta-feira Santa, visto que também obedece a esta regra.

Nada impede, não obstante o acima exposto, que não haja trabalho nas repartições federais, estaduais ou municipais nesses dias, por força da declaração, pelos órgãos competentes, de pontos facultativos.

Nesse sentido, o Secretário Executivo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por meio da Portaria nº 735, de 1º.12.2010, DOU de 02.12.2010, divulgou os dias de feriados nacionais e de pontos facultativos no ano de 2011, para cumprimento pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo, sem prejuízo da prestação dos serviços considerados essenciais.

Assim, não havendo declaração em nível municipal de que certas datas comemorativas são consideradas como feriado, o trabalho nesses dias será permitido, ficando por conta das próprias empresas, como opção, trabalharem em atividade normal ou dispensar seus empregados do trabalho, com prévio acordo de compensação ou até espontaneamente, sem prejuízo da remuneração.

Alertamos, dessa forma, que antes de qualquer divulgação ou declaração, oficial ou não, deve-se consultar a Prefeitura local, a fim de que se tenha a certeza da existência ou não de norma legal considerando como feriado algum dos dias nos quais se festeja o carnaval.

Silvio Helder Lencioni Senne

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A base de cálculo do desconto do aviso prévio não cumprido no caso de pedido de demissão

No pedido de demissão, o empregado tem a obrigação de cumprir o aviso prévio ou de pagá-lo ao empregador. Quanto ao empregador, resta, em caso de não-cumprimento do referido período, o direito de descontar os salários correspondentes ao prazo respectivo.

Caso o empregado queira garantir o salário relativo à duração do aviso prévio, terá de trabalhar o respectivo período. Por outro lado, caso opte por não trabalhar, sofrerá o desconto do valor relativo ao precitado período.

Uma das características do contrato de trabalho, nos moldes adotados pela legislação trabalhista brasileira contida na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), é ser sinalagmático, o que, em outras palavras, significa que o contrato é bilateral, ou seja, para ambas as partes a todo direito corresponde uma obrigação (obrigações recíprocas), as partes estão em “pé de igualdade”.

A análise da bilateralidade do contrato, ou seja, da reciprocidade das obrigações, leva-nos, preliminarmente, a entender que o mesmo dever que o empregador tem de indenizar o aviso prévio, quando demite seu empregado sem cumprimento do prazo respectivo, o empregado também tem quando quebra abruptamente o vínculo contratual, cabendo-lhe, da mesma forma, indenizar o período com os haveres adquiridos no curso da sua relação empregatícia.

Entretanto, a questão é polêmica, comportando diferentes entendimentos jurisprudenciais e doutrinários.

A nosso ver, a norma jurídica (Art. 487, § 2º) indica o que descontar, não mostrando, contudo, do que descontar.

Uma corrente abraça a tese do desconto sobre o salário devido (saldo ou salário integral), não cabendo ao empregador efetuar o citado desconto sobre outras verbas rescisórias, tais como férias, 13º etc., visto que esses são direitos já adquiridos, ainda que proporcionalmente, não sendo lícito que sirvam de compensação pela falta de cumprimento de outra obrigação pelo empregado (aviso prévio).

Outros entendem que, como o desconto do aviso prévio, no caso de pedido de demissão sem o devido cumprimento, tem natureza de penalidade ao empregado, ou seja, indenizatória, cabe a ele, empregado, pagar à empresa o valor correspondente ao prazo do aviso, utilizando todo o seu saldo credor, que é composto por todas as verbas a que fizer jus em virtude do rompimento do contrato (férias, 13º salário, saldo de salário etc.).

Considerando que não há predominância de entendimento, o procedimento da empresa deve ser decidido após uma reflexão cuidadosa da questão, tendo por base as razões aqui expostas, relativamente a cada tendência da doutrina e da jurisprudência, ficando claro que a posição adotada poderá ser objeto de contestação judicial.

Cumpre-nos informar, ainda, que não existe rescisão negativa, visto que o Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho (TRCT) não representa um título de crédito passível de execução extrajudicial ou até judicial.

Ressaltamos, por importante, de acordo com o acima exposto, que não há como constranger o empregado a pagar o valor do aviso prévio não descontado por falta de crédito.

Silvio Helder Lencioni Senne

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lunático

Se eu adormecer
Não vou te ver
Nem poderei saber
Em que fase estás
Se estás nova
Se estás cheia
Se estás triste
Minguante
Se estás alegre
Crescente
Por favor me acorde
Tenho que lhe falar
Tua luz lúgubre
Acende minh'alma
Me torna leve
Pra que eu possa
Voar com os ventos
E chegar mais perto
Cada vez mais perto
Te amo

© Silvio Helder Lencioni Senne

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Vamos escrever?

Pegue uma folha de papel qualquer ou, simplesmente, sente-se à frente de um computador e comece a escrever algo.

Não se preocupe com fórmulas prontas. Não pretenda mostrar algo inédito. Não queira redescobrir o mundo ou mostrar que você sabe alguma coisa que ninguém sabe. Lembre-se, o leitor vai a busca de novas idéias, ainda que sobre velhos temas.

O texto deve ser objetivo e a exposição clara e harmoniosa. O assunto, este vai refletir sua alma por meio do seu pensamento e da sua capacidade de observação e análise de tudo aquilo que o cerca.

Escreva sobre seus sonhos, seu passado, seus caminhos, e qualquer coisa que o valha, mas procure não mostrar o óbvio ou aquilo que só interessa a você. Vá até o fim, sem parar. Um texto que se guarda para depois perde a fluidez, a oportunidade, e suas idéias talvez não tenham mais a mesma sequência, quebrando a evolução lógica da exposição.

Nunca pense na reação do leitor. O melhor e o pior texto podem ser criticados de forma positiva ou negativa, dependendo da orientação sócio cultural do leitor. Tal análise envolve um juízo de valor individual que cada um tem quando recebe e percebe idéias.

Seja coerente com suas convicções. Escreva sobre aquilo que você acredita e tem como verdade. Preocupe-se em não pregar algo que você não pratica ou em que não acredita. Sua credibilidade vai estar em jogo, quando suas idéias forem expostas.

Esteja sempre aberto a discutir suas posições. Entretanto, seja firme nos seus propósitos. Escreva aquilo que você quer escrever e não aquilo que as pessoas gostariam que você escrevesse. Quem pretender divergir daquilo que você escreveu, que escreva e descreva suas próprias idéias. É assim que se constrói o conhecimento.

Agora, o que você está esperando? Vamos lá! Escreva algo! Ainda que seja para criticar este texto.

Silvio Helder Lencioni Senne

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Amor sem fim

Eu não sabia que o mundo girava
Até perceber que o meu sentimento vai e volta
Que a minha alma por vezes se solta
E vai buscar os espaços que eu já percorri

Eu não sabia que o meu sangue circulava
Até descobrir que ele altera a minha pressão
Que ele descompassa o meu coração
E me deixa com a vida por um fio

Se os minutos fossem horas
E as histórias poesias
Passaríamos várias vidas nos amando
Vivendo versos através dos dias

Eu não sabia que a língua girava
Até pedir o primeiro beijo
Sentir o primeiro desejo
Flutuando no céu da tua boca

Eu não sabia que o corpo envelhecia
Até perceber que o tempo te faz cada vez mais mulher
Que o nosso amor não é uma coisa qualquer
Teve começo, tem meio, mas nunca terá fim

Silvio Helder Lencioni Senne

A puta da vida


A vida bruta
Fruta sem caroço
Seca até o osso
Caveira de estimação
Que baila sem música
Usina de sonhos
Medonhos golpes de ar
O perigo acorda cedo
O inimigo morre de medo
Meu documento
Minha ficha limpa
Minha cara identificada
Fichas trocadas
Amassadas formas físicas
Caríssimos irmãos
Lavem o sangue das mãos
Olhem para o céu
Ele não tem preço
Não está a venda
Entenda o mundo
A vida é bruta
Puta que o pariu
Sumiu
A cara da sinceridade
A língua de verdade
A sinceridade
A vida bruta
Não...
A puta da vida
Essa vida

Silvio Helder Lencioni Senne

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Comunicação sincera ou sinceridade na comunicação, como preferirem.

A sinceridade deve estar sempre ao nosso lado, na nossa pele, no movimento do nosso pensamento e, principalmente, na nossa imagem, quando nos damos o direito de nos observarmos detidamente num espelho.

Não é fácil ser sincero. Muitos nunca pensaram nisso, tanto que consideram a sinceridade como um sinal de ingenuidade, de inexperiência, considerando esse atributo essencial e especial comum e próprio da infância.

Numa coletividade, qualquer que seja sua natureza ou sua finalidade, a responsabilidade de cada integrante aumenta à medida em que se tem o dever de ser sincero com o grupo, sob pena de alijamento natural e fatal. E isso nos parece muito claro, visto que o mascaramento de atos e intenções sempre acaba num falso estado de coisas que, consequentemente, trará resultados inócuos, ocos, sem substância, sem efeito.

A comunicação bem preparada, bem dirigida, consubstanciada por fundamentos e argumentações advindas de uma análise criteriosa da situação exposta, facilita o comportamento do interlocutor, fazendo com que a sua primeira impressão do fato, quem sabe a mais importante, seja objetivamente correta, a ponto de lhe propiciar os subsídios necessários à análise mais aprofundada que naturalmente acontecerá subsequentemente.

Nada mais harmônico do que comunicação sincera ou sinceridade na comunicação, como preferirem.

É mais importante recebermos um “não” seguido de uma justificativa objetiva, sincera e razoável, respeitando princípios éticos e morais - pilares de qualquer reunião social – do que recebermos um “sim” eivado de simulação que, por não ter nenhuma sustentação, termina por transformar-se rapidamente numa afirmação de efeitos altamente nocivos e negativos.

Não se trata de erudição ao falar ou escrever ou mesmo a desnecessária utilização de jargões, das mais diversas espécies, modismos e estrangeirismos. A medida da comunicação eficiente se faz por meio da simplicidade objetiva e da articulação sistemática das idéias a serem transmitidas. A comunicação enfeitada, difícil, poluída, não transmite a idéia, gera dúvida, e a dúvida, gera o caos.

Some poucas palavras ou gestos, com uma porção ideal de sinceridade e, certamente, você estará praticando a melhor comunicação possível, uma comunicação que chega ao seu destino íntegra e eficaz, capaz de transmitir não só dados, informações ou conhecimento, mas, principalmente, sentimento, artigo de luxo nos dias de hoje.

Façamos isso todos os dias. Se cada um de nós conseguisse transmitir pelo menos uma mensagem sincera de otimismo por dia, se conseguíssemos ensinar como se vê o mundo pelo lado positivo, em primeiro lugar, deixando o lado negativo para que possamos aprimorar os nossos mecanismos naturais de seleção, seríamos uma raça mais respeitada, até por nós mesmos.

Silvio Helder Lencioni Senne

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A caracterização do trabalhador denominado “free lance”

Inexiste na legislação brasileira a denominação free lance para determinar um tipo de trabalhador.

Todavia, o enquadramento legal desses profissionais é feito por meio da análise da sua atuação profissional, que permite que se identifique, perante o ordenamento trabalhista, qual a caracterização do trabalho exercido, ou seja, subordinado (empregado), autônomo ou como empresário.

O trabalhador autônomo se caracteriza pela autonomia e habitualidade da prestação de serviços a uma ou mais empresas, sem relação de emprego, ou seja, por conta própria, mediante o ajuste de contraprestação pecuniária.

Na prática é o que normalmente ocorre com o free lance.

Já o empregado, espécie mais comum de trabalhador, tem sua atividade disciplinada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que em seu artigo 3º o define como sendo toda pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Para que se caracterize a relação de emprego, basta que estejam presentes alguns requisitos, tais como: subordinação, exclusividade, jornada fixa, remuneração ajustada e periódica etc.

Cumpre-nos atentar para a diferença fundamental entre ambos (autônomos e empregados), que é a subordinação.

O empregado é totalmente subordinado, jurídica e economicamente, enquanto o autônomo é independente.

Importante salientar, também, que os direitos básicos assegurados a um empregado, em função do seu contrato de trabalho, não variam, na sua essência, de empresa para empresa, e não dependem de qualquer acordo ou conquista coletiva, ou seja, são adquiridos progressiva e naturalmente no curso da prestação laboral em virtude das disposições da legislação trabalhista em vigor (férias, 13º salário etc). Representam, em síntese, direitos e garantias fundamentais, que variam somente mediante negociação coletiva, observadas as condições mais benéficas e as peculiaridades de cada categoria profissional.

Assim, qualquer indício de subordinação indica a sujeição deste às regras da internas da empresa, o que poderá, numa análise judicial, ser um elemento importante na caracterização da existência de vinculação empregatícia.

Informamos, ainda, que não existe modelo de contrato para prestação de serviço autônomo. Referido documento pode ser elaborado pelas partes, com base no trabalho a ser desenvolvido, devendo ter uma feição puramente técnica e comercial.

Diante do exposto, cabe a empresa analisar o tipo de relação que terá com o referido trabalhador, ficando claro que, ainda que denominado como free lance, o profissional pode enquadrar-se no conceito de empregado, conforme o sobredito art. 3º da CLT.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A falta de educação do trabalhador brasileiro

Não pensem os leitores que estamos nos referindo à falta de educação como sinônimo de má educação que, por sua vez, nos dá a noção de tratarmos de alguém grosseiro, malcriado.

Nossa reflexão tem como objeto a triste realidade do ensino brasileiro, cujos raios vêm atingindo impiedosamente as relações de trabalho, já tão conturbadas em nosso país.

Só se tem a exata dimensão de uma carência, quando se conhece sua real importância.

Acredito que não só os nossos trabalhadores, mas a nossa população em geral não tenha noção do estrago que a falta de educação faz no encaminhamento da vida em sociedade.

As pessoas que só conhecem a experimentação prática sofrem mais, na medida em que não têm bagagem cultural suficiente para refletir sobre uma decisão a tomar ou um negócio a realizar, por exemplo, ficando a mercê daqueles que detém maior desenvoltura, até por aptidão natural, ou utilizam seu melhor preparo com fins nem sempre legítimos.

Hoje em dia, sofremos os efeitos das crises econômicas pelas quais o mundo tem caminhado, o que representa parte do preço que se paga para estar incorporado ao fenômeno intitulado globalização, onde a integração dos mercados econômico-financeiros favorecem os negócios, mas, em contrapartida, repartem prejuízos por conta da fragilidade de alguns de seus protagonistas.

Referidos acontecimentos são tão marcantes, que suas conseqüências têm atingido não só o pobre terceiro mundo, como também os já conhecidos emergentes, e até o próprio todo-poderoso primeiro mundo.

Mas será que a decadência que o ensino pátrio vem experimentando se deve única e exclusivamente aos acontecimentos mais recentes ?

Os profissionais de recursos humanos, com certeza, devem estar atravessando uma fase bastante difícil na busca de talentos e profissionais preparados para enfrentar toda a alteração que o futuro reclama.

Da mesma forma, nossos educadores, com certeza, saem das salas de aula, todos os dias, assombrados com algo que julgamos estar em fase de extinção que é o raciocínio, isto é, o encadeamento de idéias.

Nossos jovens profissionais se vêem, de repente, batendo às portas de um mercado de trabalho tão agressivo que, intimidados, desistem de levar à frente o ideal de toda uma vida partindo, como única saída, para outras atividades, em muitos caso, sem qualquer relação com a formação acadêmica.

Aqueles que conseguem um lugar no mercado terão seu futuro desenhado pela iniciativa própria e capacidade, oportunidade e vontade de saber cada vez mais sobre tudo o que está à sua volta, sem qualquer restrição à área de conhecimento e muito menos sem medo de diversificar esse conhecimento, a fim de acostumar-se a ter uma visão global de sua profissão, de sua carreira e, principalmente, do desenvolvimento do seu trabalho, seja ele por meio de relação de emprego, atividade autônoma etc.

Quem só enxerga a própria mesa de trabalho ou um número limitado de antigos clientes já está condenado à aposentadoria, muitas vezes não desejada, dado seu alijamento natural da luta por um espaço no complexo mundo cada vez mais competitivo que nos envolve a partir da porta de saída das nossas casas ou em muitos casos de dentro delas.

O ensino, no sentido de educar, instruir, não deve ser mero habilitador, via "diploma", mas este documento deve ir além de uma moldura para demonstrar a capacidade adquirida, depois de anos de estudo, de alguém que está perfeitamente situado no seu tempo e revendo a cada dia as perspectivas de futuro.

Enquanto nossas faculdades despejarem milhares de jovens apenas informados sobre a carreira com a qual sonharam ou à qual abraçaram por necessidade e, consequentemente, inaptos para o seu exercício, o mercado de trabalho e o próprio país responderá com uma perigosa queda nos níveis de qualidade, tão reclamada pela interação global, e nos próprios índices de desemprego, para não citar outros fatores, visto que os mais preparados passam a desempenhar funções múltiplas com o auxílio da alta tecnologia disponível.

O desemprego estrutural, ou seja, aquele que tem como causa o avanço tecnológico, pode ter seus efeitos minimizados, caso sejam dinamizadas, no país, políticas definidas de amplo desenvolvimento da mão-de-obra, não adstritas aos níveis educacionais secundário e superior, mas que acompanhem o cidadão desde a sua formação básica, incutindo-lhe a noção de trabalho - e não de emprego - e desenvolvendo seu raciocínio de forma a ter subsídios para entender as transformações e a modernidade sem chocar-se e sem intimidar-se.

Talvez a nossa maior aflição hoje não seja a falta de vagas, mas as vagas que não são preenchidas por falta de candidatos à altura, por absoluta falta de formação profissional, cujo programa deveria ter real importância, principalmente com vistas ao enfrentamento dos efeitos das crises mundiais, cada vez mais poderosas.

Infelizmente, faz parte da cultura do povo brasileiro não ter cultura, não por vontade própria, concluímos.

Não podemos nos esquecer também, que saúde e educação são os sustentáculos de um profissional capaz de entrar na briga por um futuro que lhe dê pelo menos uma condição decente de vida.

Fazer acontecer

Todas as manhãs nos parecem iguais. Há variações estacionais que podem trazer muita luz, o cinza do céu carrancudo dos dias nublados, o frio intenso do inverno etc.

Mas a nossa missão, enquanto profissionais, não pode nem deve depender de variações estacionais.

Postos a caminho das nossas obrigações, deparamo-nos com a frieza, ainda que bonita, em muitas situações, dos lugares que nos estreitam e nos vigiam enquanto nos transportamos ou somos transportados.

Nosso humor, bom ou mau, vai conosco. Ele sabe quando, como e onde atacar. Sabe, também, que não tem liberdade incondicionada de ação, que deverá conter-se ao primeiro comando, sob pena de ser aprisionado e até eliminado. Será que conseguimos viver sem ele?

Os indiferentes são os que não tem humor? Ou será que os indiferentes não têm alma, por isso não têm humor? Qual a diferença dos indiferentes?

Bem, enquanto nos lançamos em mais uma reflexão é bom que deixemos nosso humor de sobreaviso, pois poderemos vê-lo em ação dependendo do que vier pela frente.

Já em plena atividade, travamos conosco uma guerra onde tentamos vencer tudo o que temos para fazer, num período determinado, sem deixarmos de lado todas as idéias que, certamente, vão nos visitar e nos provocar a olharmos só para elas.

Mas o que isso quer dizer? Não devemos deixar que as idéias nos provoquem?

Infelizes daqueles que se mantiverem com essa postura medrosa, pequena, improdutiva.

Cada ato nosso, durante a vida, é comandado pela nossa capacidade de compreensão, capacidade esta que é alimentada pela observação, simples observação do cotidiano.

Aqueles caminhos que nos estreitam e nos vigiam, fornecem gratuitamente, se bem observados, dados e informações preciosas que farão com que o nosso dia, e até a nossa vida, não seja mais a mesma.

Assistir ou ser vítima de um assalto faz com que refinemos o nosso sentido de prevenção ou segurança.

Observar uma pessoa bonita ou feia faz com que refinemos nossos valores estéticos.

Todos estes lances, instintivos, quase que inconscientes, mecânicos, estão acrescentando, edificando à nossa figura toda a sustentação que precisamos para vencer, para fazer acontecer.

O grande problema é conseguirmos identificar tudo isso no momento em que ocorre, para, numa fração de segundos, armazenarmos no lugar certo e podermos usar quando for preciso.

Freqüentemente presenciamos ou somos parte de situações de fácil resolução, mas que nos derrubam no primeiro golpe por falta de experiência ou de experimentação.

A experimentação pode ser empírica (prática) ou científica. É claro que não saímos por aí fazendo experiências científicas. Mas, fazemos e somos experimentados a todo momento. Você não comete erros no trânsito? Não se perde a caminho de algum lugar? Isso é experimentação empírica. E porque não usamos tudo isso no nosso dia-a-dia?

Se detestamos fila, porque fazemos com que as pessoas nos esperem? Se temos medo de morrer , porque matamos outras pessoas ou até a nós mesmos? Se reclamamos da poluição, porque fumamos, aceleramos carros e jogamos lixo nas ruas, entre outras imbecilidades?

Façamos um balanço, naqueles mesmos caminhos que nos estreitam e nos vigiam, já de volta, cansados e felizes, descansados e decepcionados, indiferentes, de bom humor, experimentados etc, daquilo que nos cercou, das idéias e experiências que tivemos, e, ao nos colocarmos em posição de descanso, pensarmos e prometermos a nós mesmos, que se não conseguimos hoje, amanhã vamos vencer, vamos fazer acontecer.